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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O Andarilho

Bom, o que é a minha vida? Eu sou um andarilho. Não tenho compromisso com ninguem; de verdade, nem comigo mesmo. Sigo pelas estradas da vida, buscando somente a sobrevivência diária. Sou como o passarinho: um grãozinho aqui, outro acolá e vamos vivendo. Mas hoje, fui obrigado a parar para pensar na vida; engraçado, pois sequer me lembro de já ter feito isso em outra oportunidade, e então, o que dizem é verdadeiro: para tudo há uma primeira vez na vida...
Mas, tinha eu levantado da minha cama de papelão que fica num bequinho e, com fome, fui ver se conseguia um troquinho para um cafézinho com pão; dei uma batida geral na roupa para tirar o pó e comecei a caminhar pela calçada. Logo, em minha direção vinha um senhor, com um pacote de pães e leite; eu disse a ele: - Bom dia, doutor! Será que o senhor poderia me arranjar um trocadinho para tomar um café? Ele me olhou rapidamente e nem respondeu; continuou caminhando como se eu não tivesse me dirigido a ele. Como já estou acostumado com isso, segui meu caminho. Pô, tem que ter uma boa alma que me ajude... Mais a frente, encontrei uma jovem senhora, muito bonita e bem vestida; lhe fiz a mesma pergunta e ela respondeu:- Deixa-me ver... não, não tenho trocado aqui comigo ... mas, enfim, tá; pegue estes vinte reais, tome seu café e economize para poder almoçar. Eu agradeci e ela se foi. Pensei comigo que aquele fato era bastante incomum; pela primeira vez na vida, peguei uma nota de vinte reais; não iria passar fome naquela semana. Ligeiro, fui até uma lanchonete e tomei um café com pão e manteiga e comi até um pedacinho de bolo. Satisfeito, fui até a praça e sentei em um dos bancos, quando de repente sentou ao meu lado um senhor com quase quarenta anos, e parecia estar bastante triste; olhava para frente, com o olhar perdido no espaço. Percebendo que eu o observava, olhou para mim e disse: - Dificil esta vida... E eu lhe respondi:- Não muito; se consegue uma ajudinha aqui, outra alí e vai se caminhando... ele virou-se para mim e disse: - Pelo jeito não tem o senhor, uma familia ou outras obrigações?
Olhei para ele e respondi: - Minha única obrigação é viver...
Ele baixou a cabeça e respondeu com a voz meio embargada:- Pois é; eu tenho familia que depende de mim e há alguns meses atrás fui demitido e até agora não consegui um novo emprego. Hoje, minha filhinha veio até a mim e me disse: Oh! Paizinho! Estou com fome... Eu lhe respondi:- Filhinha, o papai vai sair comprar pão e leite e já volta, e aí você poderá comer, tá certo? Ela, fazendo beicinho, balançou a cabeça afirmativamente. Assim aqui estou eu; desesperado, pois não tenho um tostão furado. Nada mais tenho para vender e já não sei o que fazer...
Enquanto me contava sua triste situação, observei que lágrimas começavam a rolar pelo seu rosto.
Pensei comigo:- Que posso eu fazer por ele ou pela sua familia se nada tenho... Nesse momento, lembrei do dinheiro que tinha ganho e disse a ele, enquanto colocava o meu rico dinheirinho em sua mão: - Olha, pega esse dinheiro aqui e vá comprar comida para sua família!
Ele, entre surpreso e feliz, deixou que as lágrimas corressem em abundância, como que, aliviado. Soluçando, me abraçou, dizendo: - Jamais saberei como te agradecer por este gesto, meu irmão. Durante toda a minha vida, onde a abundância já se fez presente, além de poucos trocados, nunca dividi ou dei qualquer coisa que fosse minha a quem quer que fosse. Passei por muitos que necessitavam e nunca estendi a mão e, no entanto, hoje é uma dessas pessoas a quem tanto me neguei, que me estende a mão, se mostra mais que solidario, se mostra amigo e irmão. Que Deus te abençoe e te dê toda a felicidade que caiba em teu coração...
Enquanto ele se afastava, fiquei observando-o e aqui me encontro pensativo: como ele nunca estendeu a mão a quem quer que fosse, também eu nunca me importei com ninguem além de mim... somos dois perdedores que não souberam aprender pelo amor e agora, ainda com amor, vem a aprender pela dor...
Meus amigos, datas de amor, solidariedade e reflexão se aproximam; desejo do fundo do coração que possamos tornar esta nossa querida mãe terra, um lugar onde todos sejamos um, para que o um sempre se sinta em todos.
Abraços, beijos, um feliz Natal e um 2009 repleto de paz e solidariedade no rumo às mudanças que tanto necessitamos!
Paulo Pinto Pereira
Curitiba, Pr, 22/12/2008