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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Que país é esse?

Pela importância do assunto, publico post veiculado através do site coxanautas.com.br. É importante ler e divulgar para que todos possam pensar a respeito.
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É impressionante como a música [que empresta seu título ao post] composta pelo inconfundível Renato Russo, em 1978 - quando ainda integrava a Banda Aborto Elétrico, vem sendo diariamente repaginada diante dos acontecimentos ligados à Copa do Mundo 2014. Mais do que isso, ela é capaz de demonstrar a total falência moral que nossa sociedade acompanha de forma calada.
Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
No Amazonas, no Araguaia iá, iá,
Na baixada fluminense
Mato grosso, Minas Gerais e no
Nordeste tudo em paz
Na morte o meu descanso, mas o
Sangue anda solto
Manchando os papeis e documentos fieis
Ao descanso do patrão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Terceiro mundo, se foi
Piada no exterior
Mas o Brasil vai fica rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos indios num leilão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Não que nós mesmos estejamos isentos de cometer os mais diversos erros, mas como expectadores que contam os dias para o famigerado torneio da FIFA, acompanhamos o seguinte panorama: de um lado, a soberania nacional - construída por um sistema de leis que regulam as normas nacionais e internacionais que envolvem o país e de outro os interesses de uma instituição desportiva transnacional que tem como objetivo único e implacável a realização do evento de maior magnitude no mundo do futebol, buscando auferir cifras tão vultosas quanto a fama que caracteriza a competição.
Eis aí o primeiro conflito estabelecido. No choque entre uma norma nacional e os interesses comerciais da FIFA o que deveria prevalecer? Sem muito esforço, conclui-se que a soberania nacional e o regramento jurídico vigente no Brasil deveriam estar acima de qualquer interesse alienígena, certo?
Errado!
São grandes as pressões e o lobby comercial que apontam para o Palácio do Planalto. Mesmo tentando resistir ao ataque voraz dos homens de terno e gravata que compõem a mais alta cúpula do futebol mundial, nossa presidente vem sucumbindo, abrindo precedentes perigosos, tudo em nome de um grande capricho nacional.
Chega a ser surreal, mas o país curva-se à FIFA e rasga as suas leis [mesmo que por tempo determinado]. Regras estabelecidas no Estatuto do Torcedor, no Estatuto do Idoso, no Código de Defesa do Consumidor, entre outras, estão na iminência de ver suas eficácias suspensas, servindo como tapete vermelho para a chegada dos milionários dirigentes da bola.
Só para citar alguns exemplos, à exceção do período da Copa do Mundo, as leis deste país permitem a aquisição de meio ingresso a estudantes e idosos. Dentro dos estádios estão proibidas a utilização de fogos de artifício, o porte de bandeiras com mastros ou a ingestão de bebidas alcoólicas.
Na Copa do Mundo o regramento será outro. Possivelmente não haverá meio ingresso. Talvez até seja possível o manuseio de fogos de artifício para abrilhantar ainda mais o evento e aqueles mastros empoeirados poderão novamente sustentar as bandeiras que estarão nos estádios. Ah, é claro, aquela cerveja norte americana deverá estar absolutamente gelada para aplacar a sede dos abastados frequentadores do mundial.
É possível mesmo compreender como uma lei serve para eventos nacionais e não servem para a Copa do Mundo?
Estaríamos na iminência de nos confrontarmos com uma espécie mais sutil de um Estado de Sítio, haja vista nossa soberania estar sendo atacada por imposições estrangeiras?
E o que falar, então, da aplicação de recursos públicos destinados aos patrimônios de particulares?
Infelizmente não são pontuais ou exceções à regra as notícias que dão conta da ingestão de dinheiro público para a construção e/ou reforma de estádios por todo o país.
Aqui mesmo em Curitiba, dormimos e acordamos presenciando fatos que parecem entorpecer cidadãos e autoridades, diante da total inércia verificada contra as verdadeiras atrocidades ao erário público.
E o que dizer das mais diversas e simplistas justificativas apresentadas pelos arquitetos dos desmandos? Entre elas: o estádio escolhido é o que menos necessita de recursos [como se um centavo público sequer pudesse ser injetado em obra particular]; a população de um modo geral terá vantagens com a Copa na cidade [não que isso não seja verdade, mas não autoriza a aplicação de recursos públicos que poderiam/deveriam estar sendo investidos em obras públicas], enfim.
Chegamos ao absurdo de ver o Poder Público desapropriando áreas ao redor do estádio particular escolhido, mesmo contra a vontade de alguns proprietários, a fim de integrá-las àquela do clube.
Diante destes inimagináveis acontecimentos temos dois grupos de pessoas que o compõem: aquelas que direta ou indiretamente estão ligadas ao clube beneficiário das benesses do Estado e aquelas que ocupam posição diametralmente oposta.
Sem dúvida que os primeiros defenderão com unhas e dentes o "direito" de ver sua obra acabada, mesmo que seja com o dinheiro público. Utilizam-se de um discurso lunático que tenta de todas as formas convencer a si mesmo, e principalmente aos demais, de que o seu clube é que estaria "fazendo um favor" à coletividade, sendo "merecedor" destes recursos públicos, portanto.
Certamente aqueles contrários serão taxados de "invejosos" por não "suportarem" ver os primeiros se servindo dos recursos que também são seus.
Dessa guerra de interesses e justificativas insólitas resta enxergar a única realidade existente: todos fazem parte de uma mesma sociedade que, independente de cores ou clubes, anseia ver as coisas comuns sendo geridas de forma séria e correta.
Exigimos escola para nossos filhos, saúde para si mesmos, segurança para a coletividade.
Bem antes do que um torneio que aflore a necessidade de levar vantagem naquilo que é conveniente, é preciso que todos façam um exame de consciência e humildemente verifiquem que nossa sociedade não precisa de justificativas capazes de burlar ou suspender as leis.
Este modelo contemporâneo do "pão e circo" alimentará alguns por conveniência, sem dúvida, mas jamais será capaz de mudar a ordem natural das coisas, fazendo com o que os conceitos de certo e errado se invertam.
Enquanto alguns metem a mão no jarro e seus seguidores sorriem pelas vantagens auferidas às custas dos demais, sonho com dia em que estejamos verdadeiramente preparados para viver num país que respeita e aplica as suas leis, independente dos interesses de uma meia dúzia que detém o poder.
Deixo reverberando aqui um pensamento lembrado por um amigo na lista de discussão interna do Portal COXAnautas:
"Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada".
Ayn Rand, filósofa russo-americana.

Pobre terra de homens que brincam com suas leis!
Percy Goralewski
http://www.coxanautas.com.br/opiniao/detorcedorpratorcedor/

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